Monday, March 14, 2011

Crónica de Uma Geração

Não se fala de outra coisa. Finalmente o povo decidiu sair à rua em massa e demonstrar o seu descontentamento e indignação.
Já muito se disse e escreveu sobre a recentemente manifestação de jovens (e não só) "à rasca", e não há muito mais a acrescentar, a não ser o desejo de que este movimento consiga sensibilizar de alguma forma a classe política completamente alienada dos seus propósitos.
Pessoalmente, penso que a maioria dos Portugueses não se importaria de fazer sacrifícios pelo seu País. Uma excepcional aceitação de cortes de salários, aumentos de impostos e do custo de vida, pois acredito que somos um povo com orgulho na sua Pátria e que tudo faria em nome de uma sociedade mais igual e mais justa.
No entanto, aqueles que nos pedem sacrifícios, são os primeiros a desrespeitarem os pressupostos vitais para a prosperação de uma sociedade justa.
Não podemos aceitar que o despesismo do Estado continue sem regulação, que Gestores Públicos continuem com salários milionários independentemente dos seus resultados, que obras públicas tenham custos 3 ou 4 vezes superiores ao orçamento inicial, que se fale constantemente em crise e que as grandes empresas nacionais tenham facturado dezenas de milhões de euros de lucro, que se concedam subsídios a quem não quer trabalhar e se acomoda nesta "mama" enquanto se corta nos salários de quem desconta, que se encerrem centros de saúde nas zonas interiores, negando-se desta forma o acesso de cuidados básicos a idosos por motivos financeiros. Onde está o Humanismo destes senhores? Onde está o respeito pelos valores elementares?
Continuamos a assistir a uma governação de juros, défices e dívidas, onde se tapam buracos com remendos. Esquecem-se que somos Humanos e tratam-nos como máquinas registadoras.
Com esta situação, muitas entidades empregadoras aproveitam-se do mal dos outros para conseguirem trabalhadores “desesperadamente motivados” que tudo fazem na esperança de encontrarem o seu lugar no mercado de trabalho, enquanto ziguezagueiam por estágios, subsídios de alimentação ou de transporte como remuneração, aquisição de currículo, horas extras, ou que o fazem apenas para não estarem parados. Onde estão as perspectivas de futuro para esta gente? Onde está a ética destas empresas que exploram para benefício próprio?
Por outro lado, esta também é em parte a Geração que designo de "Os pais pagam, os filhos gastam". Felizmente é uma minoria, mas a verdade é que se vêem por aí muitos jovens acomodados à vida de "estudante", perdidos entre festas e modas, à espera do trabalho ideal. É importante ter formação, mas considero igualmente importante saber-se o que é cumprir horários, ter objectivos, trabalhar para poder comprar. Às vezes é preciso fazer primeiro o que não gostamos, enquanto espreitamos uma oportunidade na nossa área de estudos. Não é vergonha para ninguém.
Termino dizendo que estive presente nesta manifestação, embora esteja empregado num sector completamente alheio à minha área de formação académica. Estive nesta e estarei se possível nas próximas, porque mais que o descontentamento de uma Geração, assistimos à indignação de todo um Povo. Somos pacíficos, acomodados, demasiadamente permissivos. Demonstramos as nossas opiniões em conversas de família ou amigos, em casa ou nos cafés. Enquanto dura este impasse, os Portugueses vão acumulando frustrações até atingirem o ponto de saturação. Não há nada mais forte do que um povo indignado a sair à rua, movido por uma causa comum.