Monday, January 22, 2007

Uma questão de... Charysma

Era uma vez um menino que gostava muito de música, e então cantava em casa, na escola, no balneário, na rua, até na casa da vizinha. Era o rouxinol lá do bairro. Até que um dia conheceu outro menino que gostava muito de música, tinha especial apetência para as cordas. Não, não era marinheiro, nem sequer sabia dar o nó nos atacadores, mas tinha jeito para a guitarra. O Clapton de Ponte de Sôr.
Mais tarde apareceu outro menino, que quando nasceu levou uma palmadinha no rabo e não gostou, então resolveu que nunca mais iria parar de crescer e que batia em tudo que fizesse barulho. Resultado, tornou - se num baterista de 2m de altura.
Enquanto não aparece outro menino com trauma de infância que veja a música como única saída para a felicidade, estes rapazinhos juntaram - se e resolveram fazer aquilo que mais gostam na vida: barulho na casa do outro. Mas sempre com muito... "Charysma".

Sem nomes, sem fotos, apenas música!
Novidades para breve.

Monday, January 15, 2007

Expoente máximo da nossa sociedade

Já tem algum tempo mas é sem dúvida uma pérola da imprensa nacional...

Johannes Gensfleisch Zur Laden Zum Gutenberg. Nascido em 1398. Presume – se que tenha falecido a 3 de Fevereiro de 1468. Um operário metalúrgico e inventor alemão, a quem se deve, na década de 1440, a invenção da imprensa. O poder da criação de Gutenberg seria demonstrado em 1455, ano em que o inventor editaria a famosa Bíblia em dois volumes.

Sim, a Bíblia de Gutenberg tornou-se num marco notável na História das palavras impressas. Até ao passado fim-de-semana.

No passado fim-de-semana, o semanário português O INDEPENDENTE publicou, discretamente, no seu suplemento VIDA, uma coluna de opinião da autoria de Catarina Jardim. Quem é Catarina Jardim? Nada mais, nada menos do que a popular Pimpinha Jardim. Que fica desde já a ganhar a Gutenberg neste ponto Gutenberg não tinha nenhum nome de mimo. Ele era capaz de gostar de ter um nome de mimo - não deve ser fácil ser Johannes Gensfleisch ZurLaden Zum Gutenberg - mas creio que ainda não era muito comum, na Alemanha do século XV, atribuirem-se nomes de mimo. Muita sorte se alguma das namoradas lhe chamou alguma vez JOGU, o único diminutivo aceitável de Johannes Gutenberg.
E mesmo assim não é muito aceitável, porque soa demasiado próximo a iogurte, e isso é uma indústria completamente diferente daquela na qual Gutenberg se movia.

Voltemos então a Catarina Jardim e à sua coluna no jornal. O título do artigo é TODOS A BORDO, e trata-se - como o nome indica - de um relato detalhado sobre um cruzeiro a África que a jovem fez.

Ela diz, no início "O cruzeiro a África foi uma loucura, pode mesmo dizer-se que foi o cruzeiro das festas - como alguns dos convidados chamavam ao navio em que Luís Evaristo nos presenteou com MAIS UM BeOne on Board". Gosto da maneira como ela fala, sem explicações nem perdas de tempo, de pessoas e iniciativas sobre as quais boa parte dos leitores não faz a mínima ideia quem sejam ou no que consistem. Nada contra - isto faz com que qualquer leitor se sinta cúmplice e rapidamente imerso no universo Pimpinha.
Adiante.

Ficamos a saber que ela esteve em Tânger, e que a experiência foi, possivelmente a mais marcante da vida desta jovem. Passo a ler o que ela escreve: "Tânger é bastante feia, muito suja e as pessoas têm um aspecto assustador."
Nunca fui a Tânger, mas já fui a sítios parecidos e subscrevo inteiramente as palavras de Pimpinha. Malditas pessoas pobres, que só estragam o nosso planeta com a sua sujidade e o seu ar assustador! É preciso ser-se mesmo ruim para se escolher ser pobre, quando se pode ser tão limpo e bonito. Quando se pode ser, em suma, rico.

Eu penso que a Pimpinha acertou em cheio na raiz de todos os problemas mundiais da pobreza. Andam entidades a partir a cabeça em todo o mundo a pensar nisto, andou a Princesa Diana a gastar tantas solas de sapatos caros a visitar hospitais, capaz de apanhar uma doença, quando nós temos a Pimpinha com a solução. Se calhar basta lavar estas pessoas, e talvez - acompanhem-me neste raciocínio; Pimpinha vai ficar orgulhosa de mim - se calhar basta lavar estas pessoas, e em vez de gastar rios de dinheiro a mandar comida para África, porque não os Médicos Sem Fronteiras passarem a andar munidos de botox. Botox! Reparem: não é fazer cirurgias plásticas a toda esta gente feia que vive nestes países, porque isso seria demais. Mas, que diabo - botox? Vão-me dizer que não é possível ir de vez em quando a estes sítios e dar botox a estas pobres almas? Como o mundo ficaria mais bonito.

Adiante. Pimpinha desabafa, dizendo, sobre as pessoas de Marrocos, "apesar de já ter viajado muito, nunca tinha visto uma cultura assim - e sendo eu loura, não me senti nada segura ou confortável na cidade". Talvez. Mas vamos supor que trocavam Pimpinha por, vamos supor, 10 mil camelos. Era um bom negócio para o Independente. Dos 10 mil, escolhia, vamos lá, 2 para passar a escrever a coluna - o que poderia trazer melhorias significativas de qualidade - e ainda ficava com 9 mil 998. O que, tendo em conta que Portugal está a ficar um deserto, pode vir a revelar-se um investimento de futuro.
Pimpinha prossegue: "Já em segurança, animou-me a festa marroquina, com toda a gente trajada a rigor". Suponho que, para a Pimpinha Jardim, "uma festa marroquina com toda a gente trajada a rigor", tenha sido assim tipo uma festa de Halloween, tendo em conta que os marroquinos são - como a colunista diz umas linhas acima - gente feia como nunca se viu.
Adiante. Ela diz: "A seguir ao jantar, mais um festão que voltou a acabar de madrugada". Calma - esclareçam-me só neste aspecto, para eu não me perder.
Portanto, houve uma festa, não é? E a seguir, outra festa. OK.
Uma pessoa corre o risco de se perder nestes cruzeiros, com toda esta variedade de coisas que acontecem.
Diz Pimpinha: "Desta vez não deu mesmo para dormir já que fomos expulsos dos camarotes às 9 da manhã, para só conseguirmos sair do navio lá para as 14 horas. Tudo porque um marroquino se infiltrara no barco e passara uma noite em grande, uma quebra inadmissível na segurança".
Ora bom. Ora bom, ora bom, ora bom, ora bom.
Portanto, aqui a questão é: viagens a Marrocos e festas com pessoas vestidas de marroquinos, tudo bem. Agora, se pudessem NÃO ESTAR LÁ os marroquinos, isso é que era jeitoso. Malditos marroquinos, sempre com a mania de estarem em Marrocos. E como é que acontece esta quebra de segurança? Eu compreendo o drama de Pimpinha. É que o facto da segurança deixar entrar um estafermo marroquino vestido de marroquino, numa festa com gente bonita vestida de marroquina, isso só vem provar que, se calhar, os amigos da Pimpinha não são assim tão mais bonitos do que essa gente feia de Marrocos. E isso é coisa para deixar uma pessoa deprimida.

Temos nós a nossa visão do mundo tão certinha e de repente aparece um marroquino e uma brecha na segurança... Enfim - nada que uma ida às compras não resolva, ao chegar a Lisboa, certo, Pimpinha?

Adiante. Diz Pimpinha: "Já cá fora esperava-nos um grupo de policias com cães, para se certificarem de que ninguém vinha carregado de mercadorias ilegais - e não sei como é que, depois de tantos avisos da organização, ainda houve quem fosse apanhado com droga na mala!"
DROGA? NUMA FESTA DO JET SET PORTUGUÊS? NÃO! COMO? NÃO. Recuso-me a acreditar. Deve ter sido confusão, Pimpinha. Era oregãos. Era especiarias.
Pimpinha Jardim declara: "Mas o saldo foi bastante positivo. Aliás, devia haver mais gente a arriscar fazer eventos como estes".
Gosto desta Pimpinha interventiva. Sim senhor, diga tudo o que tem a dizer.
Faça estremecer o mundo. E com assuntos que valham a pena. Aliás, era capaz de ser uma boa ideia escrever um e-mail ao Bob Geldof a tentar fazê-lo ver que essa história de organizar concertos para combater a pobreza em África... Para quê? Geldof devia começar era a organizar concertos para chamar a atenção do mundo para a falta de cruzeiros com festas. Isso é que era. Mania das prioridades trocadas. Que maçada.
Mesmo no final, a colunista remata dizendo: "Devia haver mais gente a arriscar fazer eventos como estes - já estamos todos fartos dos lançamentos,"cocktails" e festas em terra".
Aprecio aqui duas coisas: a utilização do "já estamos todos", como se Pimpinha voltasse a acolher o leitor no seu regaço como que dizendo: "Sim, tu és dos meus e também estás farto de lançamentos, 'cocktails' e festas em terra. Excepto se fores marroquino, leitor. Se for esse o caso, por favor, exclui-te deste 'todos' ou então vai tomar banho antes, e logo se vê".
Depois, é refrescante saber que Pimpinha está farta de lançamentos, 'cocktails' e festas. Eu julgava que nos últimos dias a tinha visto em cerca de 250 revistas em lançamentos, 'cocktails' e festas, mas devia ser outra pessoa. Só pode ser. Confusões minhas.
Em suma: finalmente, há outra vez uma razão para ler O INDEPENDENTE todas as semanas. Tardou, mas não falhou. Pimpinha Jardim é a melhor aquisição que um jornal já fez em toda a História da Imprensa mundial.

Por Nuno Markl


P.S Consta que esta menina estuda na Universidade Católica no curso de Ciências da Comunicação.
Uffff... e eu a julgar que o jornalismo estava a perder qualidades.

Tuesday, January 02, 2007

Ainda bem que é assim

Tira esse rabo preguiçoso da cama que o dia vai começar...
Veste rápido que o tempo passa, corre como tu, para apanhares o transporte, uma escorregadela imprevista... mas suave, ninguém reparou! O céu fica escuro, primeiras pingas no nariz, aperta o casaco que o vento chega, tens que encaixar o fecho, lá em baixo, isso... Depressa levanta a cabeça!?!?! CROUCH!!! Tarde de mais. Ajuda a senhora a apanhar as compras. "que olhos lindos" pensa ela, "que belas pernas" pensas tu, não há tempo olha o transporte!!! Corre que o motorista não espera, já o tás a ver, entrou a última pessoa, tá quase... Chegaste!!! O merecido descanço, boa viagem.

...

...

"Atchim!!!"

"Snif, snif..."

Encosta a cabeça, fecha a boca, desliga o mp3 que está a gastar.

...

Acorda!!! É aqui que sais. Despacha - te, tens que ir comer, escolhe o da ponta, o que tem mais creme. Sentar??? Nem penses! Atravessa a estrada, um cão ladra para ti, não ligues, "apróxima se", acelera o passo, "está cada vez mais perto", tem calma, "já lhe vejo os dentes", corre sem olhar para trás!!! Deixaste cair o bolo, não faz mal ele come - o, tu ficas inteiro. Começa a chover, mais e mais, cada vez mais, os ténis sujos de lama, a água a escorrer pela cara, toca o telemóvel, não atendas!!!! Boa... não faz mal, esperas pelo próximo Natal.
Chegaste!! Abre a porta, segue o corredor, pede desculpa a quem empurraste, pingaste ou desviaste, mantém a cabeça firme, os olhos abertos, o coração acelera, a adrenalina sobe, a música já toca, as atenções concentram - se em ti, quando de repente!!! Começas a abrandar... Que estranho... Tanta pressa e agora isto!
Quando te apercebes estás na porra de um filme. Quando estás a conseguir o objectivo resolvem pôr tudo em câmara lenta. "É mais melodramático" dizem eles. Só tens tempo para pensar... F******!!!
Dez segundos depois de correres contra a "corrente", consegues o merecido beijo. Vá lá, é um filme romântico, com final feliz. Podias acabar com uma lapiseira a perfurar - te o cérebro, ou a assistir um episódio de Morangos com Açucar.

Ainda bem que a vida não é um filme, tem mais piada.