Thursday, December 11, 2014

Cidadania Mas Pouco

Em finais do passado mês de Novembro, fomos fustigados com chuvas fortes e ocorrências de algumas cheias um pouco por todo o país. E este foi o estado em que ficou o pavimento da minha área de residência.



















Exactamente oito crateras de diâmetro semelhante e profundidade suficiente para originar danos em viaturas ou provocar acidentes. Nos dias de chuva, os buracos ficavam completamente cobertos com água e era impossível vislumbrar as falhas no pavimento.
Durante duas semanas a estrada ficou neste estado, numa rua movimentada, e da minha janela ouvia o som dos pneus que largavam um estrondo quando embatiam nestes buracos. Decidi tirar estas fotografias e comunicar à Junta de Freguesia. Recebi uma resposta passados dois dias, agradecendo o contacto e referindo que o Presidente da Junta se tinha deslocado ao local e dado prioridade ao caso. No dia seguinte os buracos estavam tapados.
Fiquei satisfeito por ter tomado a iniciativa e o problema ter sido resolvido para bem de todos, mas por outro lado preocupado. Preocupa-me a falta de civismo das pessoas e a falta de participação activa na sociedade. Bastou um simples gesto para se resolver a situação, mas imagino as dezenas de pessoas que se lamentaram, criticaram, ou queixaram-se em conversas de café do estado do pavimento. Mas talvez ninguém tenha dado conhecimento a quem de direito. Talvez ninguém tivesse chegado a dar o primeiro passo e as coisas não se resolvem por si, entre lamurias de ocasião.
Também recentemente desloquei-me à estação dos barcos do Barreiro, sob alçada da empresa Soflusa. Na hora de adquirir os ingressos, todas as máquinas tinham a modalidade de pagamento por multibanco inactivas. Na bilheteira fui informado que só aceitariam pagamento por multibanco de valor superior a cinco euros. Tive que me deslocar propositadamente a um multibanco para levantar dinheiro, mas a minha mulher pediu o livro de reclamações. Como é possível que todas as máquinas não estejam a aceitar multibanco e na própria bilheteira não o aceitem como forma de pagamento só porque não atinge o valor que pretendem? Qual a alternativa que me oferecem?
Durante o preenchimento da reclamação pela minha mulher, ouvia o senhor da bilheteira - Não sei para que é isto. Não vai dar em nada. Reparei também que era a primeira reclamação a ser preenchida no livro. Será que nunca ninguém reclamou? Que tudo correu às mil maravilhas? Ou será que não há tempo? Disponibilidade? Vontade de agir? Isso não sei responder. Mas sei que a frase proferida pelo senhor da bilheteira ecoa em milhões de cabeças do nosso país.
Outro exemplo semelhante é a decisão do Pingo Doce em não permitir pagamentos por multibanco em pagamentos inferiores a vinte euros. O motivo é o aumento das comissões por parte dos terminais multibanco. Se bem entendo, uma grande empresa imputa comportamentos (necessidade de levantamentos de dinheiro à priori ou durante a fase de pagamento na própria caixa) e retira meios de pagamento e respectivo conforto aos seus clientes, porque outra empresa aumentou para si os custos. Ora então eu, a quem me tem sido retirado frequentemente capacidade de poder de compra, posso também ter legitimidade para informar o Pingo Doce que irei pagar valor inferior aos preços marcados, porque têm aumentado gradualmente nos últimos tempos. Isto não faz qualquer sentido. Mas continuo a verificar que os clientes continuam a ser clientes e aceitam as mudanças que os prejudicam de ânimo leve. Se assim é, porque não seguem outras empresas os mesmos passos se ninguém reage? Será que não está na eminência de acontecer?
Se ninguém agir e deixarem as reclamações perdidas em desabafos com vizinhos e amigos, aí ninguém tem conhecimento. Ninguém se digna a resolver. Empurram-se responsabilidades e ninguém faz nada.