Friday, September 26, 2014

Pai, Recomenda-se!

Um ano, um mês e oito dias, foi o tempo que passou desde o último post de “Um Mundo a Atingir”. Passou muito tempo. Demasiado tempo. A verdade é que pelo meio sucederam-se alguns percalços, acidentes bons e outros menos bons, alguma falta de vontade e mais importante de tudo: o nascimento de uma criança.
Todos ouvimos falar do quanto incrível ser pai, pode ser. Tantas histórias e experiências partilhadas, que nos fazem imaginar, o que é ser pai. Mas a verdade, é que enquanto não vivenciamos a experiência in loco, nunca sabemos o que significa na realidade.
Mas comecemos pelo início.
Quando soube que ía ser pai, vivi um misto de sensações. Por um lado uma alegria imensa, mas por outro alguma apatia e apreensão, porque não fazia ideia do que esperar. Sabia apenas que vinha aí "qualquer coisa" que ía mudar a minha vida por completo. Mas não sabia como...
Ao assistir à primeira ecografia, acordei para as primeiras grandes emoções, do género "Epá, já está ali desenhado. Isto é mesmo a sério!". Até ao nascimento tudo se baseia em cuidados, expectativas, preparação e muita informação à mistura. É uma menina!
No dia 24 de Abril do presente ano a menina decidiu conhecer o mundo. A muito custo, diga-se, mas os pormenores ficam para outra altura.
Os primeiros dias são no mínimo hostis. Um novo ser, de tamanha reduzido, ar engelhado e carrancudo, chorão, rabugento e completamente dependente. E agora, o que é que eu faço?
Chorar, dormir e fazer cocó. São os princípios básicos de um recém nascido. Tão bom, que saudades. Mas a descida aos infernos depressa se faz sentir, com choros e berros estridentes e repetitivos que quase nos levam à loucura. E as cólicas? Ai essas serial killers da calma e descanso. Não dão tréguas, mas com o tempo, acabam por sucumbir à ordem natural das coisas, e a uma série de "medicamentos milagrosos", que nos levam a carteira por um pouco de conforto e muito efeito placebo.
Nos primeiros três meses, não me sentia um verdadeiro pai. A sensação de ter a responsabilidade por um ser, que pouco ou nada interage e cujo único objectivo é sobreviver com ajuda dos pais, não é a que estava à espera na minha imaginação. Tudo isto aliado às queixas constantes do pequeno e pobre ser com sofrimentos que parecem não ter fim e nos levam ao desespero. "Se eu soubesse que seria assim..." Eu sei, é um pensamento ultrajante, mas acredito que passou pela cabeça de todos os pais, nem que seja por um breve segundo, e quem não o admite está a ser politicamente correcto. Uma expressão honrosa para hipócrita, que tão bem combina com política.
Mas passados os primeiros três meses, chegam os primeiros sorrisos. E assim todas as noites sem dormir e inquietações constantes valeram a pena. Bastou um sorriso.
Começam os gugus, os dadás, os gritinhos, as festinhas, e os sorrisos... Tantos sorrisos que originam outros tantos. E agora sou pai.
A interacção com aquele ser simpático, gorducho, carinhoso, construtor de felicidade, transforma-se na mais bela essência da natureza humana: o amor de um pai pela filha.

Um Mundo a Atingir leva agora oito anos de existência. Embora com algumas paragens pelo meio, prometo voltar a escrever com maior regularidade, sobre actualidade, desporto, cultura, entre outros devaneios pessoais. Porque o mundo, irá ter sempre algo a atingir.