Confesso que me incomodou utilizar o diminutivo do meu país
no título desta publicação, mas face à situação grotesca que vos irei
descrever, creio que se adequa perfeitamente.
Partilho convosco a história de um homem que se encontrava à
porta de um supermercado a fazer o seu trabalho. De quando em vez, deslocava-se junto dos automobilistas que
estacionavam na faixa de rodagem, quando existiam bem próximo lugares de
estacionamento vagos. Por vezes bloqueavam esses mesmos estacionamentos. O
intuito era sensibilizar as pessoas a estacionarem correctamente, facto que foi
acatado por todos. Mas houve uma excepção.
- A senhora está mal estacionada, se não se importa tem aqui
ao lado um lugar vago.
Ignorando completamente o que lhe foi dito, a senhora sai do
carro em modo de arrogância on e
remata.
- Eu sei, são só dois minutos. Vou ao supermercado.
- Então é o tempo que preciso para lhe passar uma multa.
A acompanhante da senhora, prontamente afia as facas, com o
ego nas nuvens e uma prepotência desmesurada, dirige-se ao Agente.
- Eu sou Magistrada do Ministério Público! O que pensa que
está a fazer?
Grita a senhora em plenos pulmões do outro lado da rua,
originando um aparato entre todos os presentes.
-Você deve ser novo aqui. Os seus colegas todos conhecem-me,
quem pensa você que é para estar a fazer isto?
- Desculpe, eu não a conheço mas se calhar é esse o
problema. Pensar que pode fazer tudo o que lhe apetece. – Responde o rapaz,
perplexo com o escândalo que se estava a desencadear.
- Eu quero a sua identificação! Vou apresentar queixa de si!
O Agente fornece-lhe a identificação, tranquilo e seguro do
que estava a fazer.
Entretanto a senhora suposta Magistrada pega no seu
telemóvel para fazer uma chamada.
- Estou (dirigindo-se por “tu” a um Oficial de Polícia).
Está aqui um rapazinho… Chama lá os teus meninos para virem aqui resolver a
situação.
Os “meninos” foram chamados, mas face à aparente demora, a
senhora volta a dar uso ao seu aparelho electrónico e ao seu estatuto.
- Estou. Ainda estou à espera do Carro Patrulha. Nunca mais
chegam?
Um senhor que ali se encontrava, tendo sido ele próprio aconselhado,
momentos antes, a estacionar devidamente a sua viatura, ao assistir indignado a
tal espectáculo, resolveu aproximar-se.
- Sr. Agente, desculpe lá estar a meter-me. Mas se quiser
pode ficar com a minha identificação para ser sua testemunha. É que esta mulher
deve estar a pensar que manda nesta merda toda para estar a falar desta
maneira.
Entretanto, a senhora parece ter começado a cair em si, e
resolve fazer mais uma chamadinha “máfia russa” dizendo que afinal já não era
necessária a presença do Carro Patrulha.
Mas continua…
- Isto agora fica por aqui. Nem vou apresentar queixa de si,
senão arranjava-lhe uma carga de trabalhos.
Preparava-se para partir junto com a sua acompanhante,
quando o Agente voltou a dirigir-se a ela.
- Não, agora vai esperar um pouco porque eu também quero a
sua identificação.
- O quê? Eu não dou identificação nenhuma. Eu só tenho que
me identificar perante um superior seu.
- Pois, mas eu não a conheço de lado nenhum. A Sr.ª diz que
é Procuradora mas eu não sei se corresponde à verdade. Sou Agente da Autoridade
e já me identifiquei. Tenho o direito de lhe requerer a identificação e como
deve saber, se recusar está a incorrer num crime.
- Olhe que ela é sua patroa. (Contribui a condutora com
precioso comentário).
- Eu sou sua superior e só tenho que responder perante os
seus superiores.
- Não, (volta o Agente a elucidar a senhora) o meu superior
é o Comandante da minha Esquadra e é a ele que tenho que prestar contas.
O Agente mantendo sempre uma postura de calma e respeito
face às adversidades do circo montado, profere as últimas palavras à senhora.
- Sabe, eu sou Polícia mas quando estou fora de serviço, não
ando por aí a identificar-me e a usar a profissão para benefício próprio. Já a
senhora, usou e abusou do seu cargo para me tentar condicionar a fazer o meu
trabalho, originando este espectáculo sem necessidade nenhuma.
A senhora formada, mas aparentemente com pouca formação,
acabou por admitir que talvez tenha “exagerado um pouco” e abandonou o local.
Veio-se a verificar que a senhora era efectivamente aquilo
que dizia ser.
Por enquanto, a situação ficou resolvida.
Como nota final de reflexão, é muito desapontante assistir
ou ter conhecimento de situações como esta ou semelhantes. Cada vez mais
torna-se notório, de que canudos académicos e estatutos profissionais não são
sinónimo de educação e boa formação.
Em países civilizados, como por exemplo no Canadá, qualquer
forma de descriminação, menosprezo, ou comportamentos de superioridade de um
ser humano sobre outro ser humano, sejam eles relacionados com etnia, classe
social ou profissional é altamente censurável. A título elucidativo, se um
Magistrado se dirigisse a um varredor de ruas, sem o devido respeito, abusando
do seu estatuto e lhe pedisse de forma menos própria para varrer a entrada da
sua casa e se esta situação chegasse a conhecimento público, esse senhor iria com
certeza deparar-se com muitos problemas.
Mas neste País, dos “baixa calcinhas”, quem pode manda e faz
o que quer. Aparentemente, se estes senhores da sociedade espirram o Mundo
treme…
O respeito, a educação e os bons valores não se compram. Quem
acredita que sim são os idiotas e os ignorantes. Os que pertencem a essa
classe elitista (e ainda bem que a é) que o sejam entrem eles e sejam felizes.
E que sempre que pretendam abusar do seu estatuto, embrulhem uma resposta à
altura e se apercebam que o Mundo não é só deles.
P.S – Esta história é ficção. Qualquer semelhança com a
realidade é pura coincidência.