As dívidas começaram a vir ao de cima, passados anos de
sustento de negócios ruinosos que eram orquestrados por debaixo da mesa sem o
conhecimento da população geral. O Estado financiava grupos de poder privados e
acarretava com os custos.
As negociatas desenvolveram-se e descontrolaram-se de tal
forma que o dinheiro acabou. A Europa entrou em recessão.
O Estado cortou na sua despesa direccionada à população,
aumentou os impostos e cortou nos ordenados. Empresas faliram, o desemprego
aumentou a um ritmo avassalador, as progressões congelaram e os produtos de
consumo tiveram aumentos abismais.
Milhares de pessoas entregam as casas aos bancos, e outras
tantas são obrigadas a fazê-lo. A economia estagnou. Não há produção, não há
emprego. Fazem-se pedidos de resgate, e recorre-se à austeridade para pagar
juros de juros de empréstimo.
A situação foi-se tornando insustentável, alimentada pela
revolta e manifestações da população querendo justiça e melhores condições de
vida.
As Nações que mantiveram a sua economia equilibrada, não se
revêem nas que se afundam em pedidos de ajuda. A Europa separou-se e
instalou-se uma relação de afastamento e indiferença entre as Nações que lembra
o clima de “Guerra-fria”. As moedas fortes reclamaram independência e o Euro colapsou.
As fronteiras foram praticamente fechadas, as trocas
comerciais estagnaram desrespeitando as regras anteriormente instituídas. A
fome começa a pairar sobre os países endividados, bem como um conflito entre
nações.
Espanha, França, Itália, Portugal, Chipre e Grécia, ficaram
sem dinheiro, os postos de trabalho decaíram 50% com cortes salariais e os
funcionários públicos sobrevivem com ordenados em atraso e incertos. A população
migrou para o interior em busca de agricultura sustentável como meio de
sobrevivência. Muitas viviam na rua enquanto milhares de habitações se
encontravam vazias por falta de pagamento. As políticas sociais praticamente
desapareceram.
As pessoas entraram em pânico, vendendo tudo o que tinham e
tentando retirar o dinheiro dos bancos. Os mesmos que reclamavam junto dos seus credores o pagamento de dívidas, fechando as portas e declarando falência. Todas as
poupanças de uma vida ficavam perdidas.
Sem empréstimos disponíveis as empresas fecharam, empregos
desapareceram e em poucos meses não havia dinheiro nas casas de famílias. Milhares
de pessoas envergonhadas faziam filas nas ruas por uma sopa quente e um pão
para dividir pelos filhos.
Os líderes políticos insistiam que a situação era
passageira, mas a contestação social aumentou de volume e sérios confrontos se
repetiam por toda a Europa.
Centenas de bairros de lata cresceram pelas principais
capitais, numa luta desesperada de milhares de famílias por um lar.
A Europa continua a viver da especulação e decisões/interesses
de uma minoria abastada.
No entanto, no último trimestre observou-se uma ligeira
recuperação económica, que pode significar o renascer de uma nova esperança.
In Diário da Europa,
10 de Junho de 2017